CLIQUE AQUI PARA CONTATOlogo

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Entrevista com o primeiro comentarista de futebol americano do Brasil

Alguns meses atrás, durante nossas transmissões no BandSports, recebi dois e-mails de pessoas que afirmavam ter visto jogos da NFL na televisão brasileira em 1969. Eu nunca tinha ouvido falar disso e fui averiguar.

Descobri que era verdade, e que trata-se de uma história muito bacana, protagonizada por um ícone da comunicação no Brasil, o radialista Walter Silva, também conhecido como “Picapau” (Clique aqui para ver os posts anteriores sobre esse assunto).

Walter Silva foi o introdutor e primeiro entusiasta do futebol americano no Brasil, em 1969. Faleceu em fevereiro de 2009, após uma pródiga carreira de narrador e produtor musical e cultural. Sua esposa, a artista plástica Dea Silva, me recebeu recentemente e mostrou todo o arquivo de Walter, com os recortes de revistas e rosters de times da NFL que ele recebia da CBS para as partidas.

Dea também me falou que, na primeira partida transmitida, em setembro de 1969, Silva teve a humildade de pedir ajuda no ar, convocando alguma pessoa que conhecesse bem aquele esporte a entrar em contato com a TV Tupi. Isso aconteceu, e o entrevistado abaixo é essa pessoa.


O americano Thomas Noonan foi o primeiro comentarista de futebol americano no Brasil, em 1969. Hoje, ele mora em San Diego, nos Estados Unidos, e é consultor financeiro, após uma longa e bem sucedida carreira no Citibank.

Thomas Noonan me atendeu com extrema simpatia. Ele fala e escreve perfeitamente em português e, com bom humor, relembrou os bons tempos do início da bola oval no Brasil. Confira a entrevista!

Paulo Mancha: De onde você é nos Estados Unidos?
Thomas Noonan: Nasci em Iowa, mas morei em Los Angeles até ir para a Universidade de Yale, em Connecticut.

Você jogava futebol americano lá?
Sim, eu joguei na escola e também durante os meus primeiros dois anos na universidade. Eu era quarterback, porque tinha um braço bom, tanto em distância quanto em precisão.

Como veio parar no Brasil?
Depois de dois anos em Yale, decidi estudar no exterior. Escolhi um programa da Universidade de Nova York em colaboração com a Faculdade de Filosofia da USP chamado “Junior Year In Brazil.”

Foi uma boa experiência?
Aquele ano no Brasil mudou minha vida. Ele abriu meus olhos para novas experiências de vários tipos. Conheci muitas pessoas fabulosas em São Paulo, aprendi a falar Português rapidamente, porque todos os nossos cursos era na língua do país, e durante nossas férias viajamos para a muitas partes, de Porto Alegre a Belém do Pará.

E você ficou por aqui direto?
Não. Voltei a Yale por mais dois anos para me formar. Depois, acabei indo para Nova York, trabalhar no Citibank. Após 18 meses de cursos, fui designado para trabalhar no Brasil. Primeiro em Curitiba, depois em São Paulo.

Como você se tornou comentarista da TV Tupi?
Numa tarde de setembro de 1969, eu cheguei em casa e liguei a televisão. Fiquei surpreso ao deparar com um jogo da NFL entre o Green Bay Packers e Dallas Cowboys. A narração era em português e eu rapidamente compreendi que se tratava de um locutor de soccer, pois fazia frequentes referências ao futebol brasileiro. Havia comentários como: "Esse jogo é gozado!”, "Que brutalidade!","Opa! Isso vai doer!”, “Todo mundo foi em cima do coitado!".
No dia seguinte, pedi à minha secretária que telefonasse à TV Tupi. Após vários minutos, ela veio até mim dizendo que tinha o Sr. Walter Silva no telefone. Depois que eu me apresentei, Walter me perguntou, incrédulo: "Você entende desse jogo doido?" Eu respondi que tinha jogado por vários anos. Ele adorou isso e gritou: "Fantástico! Vamos almoçar! Hoje mesmo!"

E foi aí que surgiu o convite?
Sim. Durante o almoço, Walter me explicou que a TV Tupi estava recebendo as fitas da CBS por 18 meses gratuitamente, com a esperança de que uma base de fãs fosse desenvolvida durante este tempo. E então ele me convidou para acompanhá-lo no jogo do domingo seguinte.

Você lembra em que partida foi essa sua estreia na TV?
Sim, foi entre o San Francisco 49ers e Chicago Bears.

Como foi a experiência de comentar um esporte que ninguém conhecia, nem o narrador?
De início, perguntei a Walter que tipo de preparação ele fazia para cada jogo. Ele respondeu que não fazia preparação nenhuma porque não tinha noção de como era o jogo e não falava bem o inglês. Eu lhe disse que seria preciso gastar pelo menos três horas para preparar a nossa narração, dado que os espectadores brasileiros não conheciam o esporte.
Ele concordou. Desta forma, na tarde do sábado seguinte, no estúdio a TV Tupi, em Perdizes, eu e ele passamos três horas em uma sala de projeção assistindo certas partes da partida repetidamente.

Walter Silva era interessado em futebol americano?
Sim, o Walter passou a adorar o esporte. Ele assistia tanto quanto ao futebol brasileiro. Ele lançava-me perguntas sobre cada aspecto do jogo e tomava notas furiosamente.

Vocês explicavam as regras e táticas para o público?
Sim. Originalmente, nosso tempo era das 14h às 16h. Mas depois de algumas semanas, Walter convenceu a TV Tupi a nos dar um adicional de 30 minutos antes do jogo. Ele me fazia perguntas no ar e eu respondia. Eu até desenhava diagramas com aqueles “X” e “O”, que se tornaram rotina na televisão americana.

É verdade que só jogos do Dallas Cowboys eram exibidos?
Não. Não foram apenas partidas do Dallas Cowboys, embora possam ter sido as mais freqüentes. Durante os 18 meses que fizemos a programas, tivemos a maioria das equipes originais da NFL, que hoje são times da NFC: Cowboys, Giants, Eagles, Rams, 49ers, Bears, Lions, Packers, Colts, Steelers e Browns.

Vocês chegaram a mostrar o Super Bowl?
Não. Só dois Super Bowls haviam ocorrido até então. Mas nós não tivemos acesso a essas fitas.

Havia uma boa audiência?
Depois de algumas semanas, nós começamos a receber um monte de cartas de fãs. Muitas mulheres enviaram suas fotos e números de telefone! Mas eu não sei se a TV Tupi chegou a ter qualquer dado confiável quanto ao número de telespectadores que tivemos.

Quem eram seus ídolos na época?
Meus jogadores favoritos eram Don Meredith (QB) e Bob Hayes (WR), dos Cowboys, além de Bart Starr (QB) e Jim Taylor (RB), dos Packers.

Você e Walter se davam bem?
Sim, nós nos tornamos grandes amigos. Nós costumávamos almoçar juntos frequentemente.

Você ainda acompanha a NFL? Para que time torce?
Sim, eu ainda sou um grande fã. Minha lealdade muda com o tempo, dependendo dos jogadores. Por exemplo, eu sempre fui um grande fã de Brett Favre e Ricky Williams. Favre está agora com os Vikings, e Williams, com os Dolphins. No momento, estes são os meus dois times favoritos.

Qual seu palpite para o Super Bowl deste ano?
As duas melhores equipes deste ano são os Colts e os Saints. Eles seriam a melhor aposta para o Super Bowl.

Que mensagem você deixa para os fãs brasileiros?
Façam tudo o que puderem para ver uma partida ao vivo, no estádio. Mesmo que não seja da NFL, você ficará surpreso com a rapidez do jogo e com a dureza dos tackles!

21 Comentários:

Às 6 de janeiro de 2010 às 12:45 , Blogger Unknown disse...

Muito, muito interessante. Parabéns!

 
Às 6 de janeiro de 2010 às 12:47 , Blogger Unknown disse...

FANTASTICO!!!! não tem o que falar!!fique sem palavras, PARABENS Mancha !!!

 
Às 6 de janeiro de 2010 às 12:52 , Blogger André José Adler disse...

Grande sacada, Mancha! Bom jornalismo. Parabéns!

 
Às 6 de janeiro de 2010 às 13:04 , Blogger Rômulo Freitas disse...

muito legal mesmo!!!

 
Às 6 de janeiro de 2010 às 13:09 , Blogger Orlando Ferreira Jr. disse...

Parabéns pelo belíssimo Jornalismo, Mancha! Show de bola!

 
Às 6 de janeiro de 2010 às 13:15 , Blogger Fran Silva disse...

Paulo parabéns pela entrevista com a familia do Walter Silva e Thomas Noonan, vc sempre cometou sobre as possiveis transmissões na tupi, correu atrás e consegiu. tenho certeza que não foi nada fácil ! obrigado por tudo que voce, o Ivan e Silvio S. Junior nos proporciona e informações da bola oval como diz o Adler outro idolo .
José Francisco - Sampa

 
Às 6 de janeiro de 2010 às 13:32 , Blogger DenevaldoJunior disse...

Show de bola oval. Seria bom se tivesse na TV aberta algo deste tipo ou próximo disso: http://www.metacafe.com/watch/2092961/american_football_futebol_americano_touchdown_fernando_vannucci_placar_eletronico/

 
Às 6 de janeiro de 2010 às 15:24 , Blogger Unknown disse...

Incrível!!
Essa entrevista poderia ter sido gravada, para que pudesse ser exibida na Bandsports!!!
Parabéns!!
Show your Horns!!

 
Às 6 de janeiro de 2010 às 16:35 , Anonymous Anônimo disse...

Muito legal, esperamos que o público brasileiro se torne cada vez mais fã desse esporte!!!

 
Às 6 de janeiro de 2010 às 18:36 , Blogger Deee disse...

Mancha,a Band aberta sempre foi a grande incentivadora da NFL no Brasil e sempre q pode,passa o SB em VT.
Se alguma outra emissora aberta quisesse transmitir a NFL,poderia faze-lo?
A Band não tem como,devido ao Campeonato Brasileiro.
A unica q eu vejo q teria condições é a RedeTV.
Eles poderiam colocar antes do Panico,por exemplo.
Já pensou o Emilio falando q o programa começaria depois do Futebol Americano?
Iria despertar a curiosidade da audiencia,além de se colocar como uma alternativa aqueles q não aguentam mais a saturação do futebol tradicional na tv e nem se ligam tanto assim,como eu.
Ou até mesmo q não ve graça em ver 11 homens correndo atrás de uma bola,já q a dinamica do Futebol Americano é totalmente diferente e por isso mesmo,mto mais interessante.
No mais,parabens pelo trabalho Mancha!
Mto legal mesmo saber q a NFL tem história no Brasil.
Agora já sabemos pq o Luciano do Valle trouxe a NFL de volta a tv aberta,pena q não da mesma forma q na Tv Tupi...

 
Às 6 de janeiro de 2010 às 19:46 , Blogger Unknown disse...

MUITO LEGAL, PARABÉNS AO MANCHA POR SER UMA PESSOA APAIXONADA POR FUTEBOL AMERICANO E IR ATRÁS DAS NOTICIAS DOPRESENTE E DO PASSADO TAMBÉM, QUERIA SABER COM O MANCHA SE VOCÊ JA ASSISTIU O FILME BLINDSIDE E O QUE VOCÊ ACHOU, EU ASSISTI E ACHEI OTIMO

 
Às 6 de janeiro de 2010 às 20:45 , Blogger Alida disse...

Que legal saber deste começo do esporte no Brasil....Abraço

 
Às 6 de janeiro de 2010 às 21:33 , Blogger França disse...

Mancha,

Na entrevista, ele menciona que a Tupi provavelmente não tinha ideia da audiência.
Em termos de métrica, você sabe se os canais ainda "vivos" (Bandeirantes , BandSports, ESPN)
tinham / tem alguma estimativa de audiência do FA e comparativos c/ outros esportes?
Você não acha que seria um passo importante na consolidação do FA aqui no Brasil ?

E parabéns pelo jornalismo educativo e, ao mesmo tempo, que homenageia os profissionais que são parte da historia do nosso querido esporte.

 
Às 6 de janeiro de 2010 às 22:35 , Blogger Unknown disse...

Baita reportagem, muito interessante. Parabéns Mancha!

 
Às 7 de janeiro de 2010 às 10:52 , Blogger Anderson Gomes disse...

Muito legal o sotaque dele devia ser mais forte do que o de Paulo Antunes(que eu acho que é forçado)
Parabens Mancha

 
Às 7 de janeiro de 2010 às 12:53 , Blogger Leslie disse...

Esse história parece um daqueles TD´s inesquecíveis. Eu adoro esse tipo de histórico, de como foi o começo...e mais uma vez, PARABÉNS pela matéria.

 
Às 7 de janeiro de 2010 às 14:28 , Blogger Andre disse...

Que grande achado. Deve ter sido muito difícil encerrar a entrevista. Só lendo ja da vontade de não parar mais. Imagino num bate papo...

 
Às 8 de janeiro de 2010 às 21:03 , Blogger Unknown disse...

Parabéns!!
Você realmente vai além.
Show.
Carlos AC

 
Às 10 de janeiro de 2010 às 22:25 , Blogger Francisco Olivieri disse...

Muito bom, e muito interessante saber que a NFL era passada há 40 anos atrás!
Agora, um maluco falou na Rede TV...em 93, acho, a Manchete, todo domingo, passava um resumo da rodada, não sei se era a da semana, ou da anterior, tempos sem internet e tal...Lembro que quem narrava era o Osmar Santos!
Mancha, lembra disso? Se sim, dê mais detalhes!
Obrigado!

 
Às 11 de janeiro de 2010 às 12:04 , Blogger Uyio disse...

Inacreditável.

Não sou muito fã de FA, mas, a entrega pelo esporte me chama a atenção.

Queria que o Rugby tivesse profissionais dentro da TV tão empenhados quanto o Paulo Mancha e quem tiver ajudado. Gente como ele contribui enormemente para o crescimento do esporte. A melhor definição para a palavra "entusiasta".

Com relação a entrevista, PARABENS. É um achado. Muito maneiro saber um pouco da história das transmissões aqui no Brasil. Fico sem palavras. Um saudosismo muito saudável.

Uma homenagem merecida aos pioneiros.

 
Às 12 de janeiro de 2010 às 01:08 , Blogger Felipe Jardim disse...

Sr. D´Amaro, você é o cara!

 

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial