CLIQUE AQUI PARA CONTATOlogo

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O dia em que o "soccer" mudou o "football"

"Soccer" e "Football" nunca foram lá muito amigos. Um é europeu, simples nas regras e conduzido à base de arte e capacidade de improviso. O outro, americano, complexo, movido por força e estratégia. Cruzamento entre ambos ao longo da história? Inexistente. Alguém consegue imaginar Pelé como quarterback? E Joe Montana como centro-avante?

Mas houve um momento em que o nosso futebol da bola redonda invadiu de certa forma os destinos da bola oval. E mudou a história.

O ano era 1966. Na sua 5ª década de existência, a NFL era comandada pelo gênio Pete Rozelle. Com ele, atingira um nível de organização e competência fora do comum. Poucos anos antes, em 1958, surpreenderá o país com a audiência recorde de 45 milhões de telespectadores na final entre Baltimore Colts e New York Giants.

As cadeias de televisão passaram a dar cada vez mais espaço ao futebol americano. Espaço e dinheiro, com contratos milionários. Pela primeira vez desde o Século 19, o futebol americano ameaçava o beisebol em termos de popularidade nos Estados Unidos.

O sucesso estimulou o aparecimento de novos times, unidos em uma liga rival, criada em 1960. Era a American Football League – AFL.

Durante seis anos, NFL e AFL desfrutaram em paralelo do florescimento do futebol americano na cultura dos Estados Unidos. De um lado, o hard nose football da NFL, com seu jogo forte por terra, ancorado em talentos como o running back Jim Brown, do Cleveland Browns. De outro, o mickey mouse football da AFL, com seus quarterbacks despudorados, exemplificados por Joe Namath, do New York Jets.

A paz armada entre NFL e AFL se mantinha graças a um tênue acordo de cavalheiros que impedia os times de uma liga de “roubar” jogadores de outra.

Mas o crescimento do esporte fez disparar também os salários e os gastos em ambas as ligas. A competição entre NFL e AFL dividia o público pagante, assim como os lucros dos contratos com as TVs. Também aumentava os preços cobrados por fornecedores de materiais e serviços, que podiam sempre ameaçar “vender para a outra liga”, caso uma delas reclamasse.

Em meados da década de sessenta, essa divisão mostrava-se perigosa em todos os sentidos. A solução mais inteligente era a fusão de ambas. Mas havia todo o tipo de empecilho – das burocracias legais aos ressentimentos e rancores existentes entre os donos de times de ambos os lados. Por isso, havia negociações, mas elas se arrastavam, sem grandes perspectivas de dar certo.

Foi quando o então dono do New York Giants, Wellington Mara, fez “a loucura”. Na temporada de 1965, seu time havia tido um aproveitamento ridículo de 4 field goals em 25 tentados. Desesperado, Mara voltou seus olhos para a cidade de Buffalo. Ali, estava o húngaro Pete Gogolak jogando pelos Bills, da AFL.

Pete Gogolak era um fenômeno. Fora responsável sozinho por 25% de todos os pontos feitos pelos Bills nas duas temporadas anteriores. Acertava chutes de mais de 55 jardas e tinha um incrível índice de 65% de acerto - altíssimo para a época. Acabou eleito um dos melhores jogadores de 1965 pela revista Sporting News – fato raro em se tratando de kickers.

O segredo de Gogolak era o “soccer style”. Criado na colônia húngara de Nova York, ele passou a infância entre amigos e parentes orgulhosos da seleção que encantou a todos na Copa do Mundo de 1954. Por isso, sabia muito bem das vantagens de correr em diagonal e bater na bola com o peito do pé – bem diferente dos kickers amricanos, que se aproximavam em linha reta e chutavam de bico.

A contratação de Gogolak pelos Giants na offseason de 1966 caiu como uma bomba. O acordo de não “roubar” jogadores da outra liga havia sido quebrado.

Naquele momento, só havia duas alternativas. A primeira era a guerra total entre NFL e AFL, com uma tentando cooptar atletas da outra, deflagrando uma desastrosa inflação nos salários. A segunda alternativa era o oposto: acelerar as negociações e fundir de vez as ligas.

Para o bem do futebol americano, venceu a segunda opção, e no final daquela mesma temporada, Kansas City Chiefs (AFL) e Green Bay Packers (NFL) faziam a primeira edição do Super Bowl.

Com a união das ligas, começava a era de ouro do futebol americano, um período em que ele suplantaria de vez o beisebol e se tornaria o maior esporte dos Estados Unidos.

E começava também a era do "soccer style" entre os kickers. Hoje em dia, 100% deles chutam a bola dessa maneira. A maneira de um húngaro com nome estranho e gosto pela redonda.

9 Comentários:

Às 15 de abril de 2010 às 21:28 , Blogger Pedro Argento disse...

Muito legal, Mancha!

Dá para traçar um paralelo interessante entre as negociações da NFL e da AFL, na década de 60, com as negociações de hoje entre a NFL e NFLPA sobre o CBA, que se não derem certo provavelmente gerarão um lockout em 2011.

Abraços!

 
Às 15 de abril de 2010 às 21:32 , Anonymous Josemar Moura disse...

Paulo, porque os americanos chamam o futebol americano de football se o jogo é jogado a maior parte do tempo com a bola nas mãos?
Football pra mim é o esporte trazido ao Brasil por Charles Miller. O nosso futebol.

Grande abraço.

 
Às 15 de abril de 2010 às 21:36 , Blogger Paulo Mancha disse...

Josemar, sua resposta está neste link:http://www.oquarterback.com/?p=945

E prepare-se, pois você vai se surpreender!

 
Às 16 de abril de 2010 às 10:28 , Blogger Unknown disse...

Muito legal essa matéria Mancha! Parabéns pelo blog e sucesso pra você!

 
Às 16 de abril de 2010 às 10:49 , Blogger LIONE disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
Às 16 de abril de 2010 às 10:50 , Anonymous Josemar Moura disse...

Mancha, muito esclarecedor o texto.

Agora eu sei o porquê dos americanos chamarem o futebol de "soccer" (nome horrível).

Obrigado.

 
Às 16 de abril de 2010 às 18:51 , Blogger Unknown disse...

Cara, me amarro nesses artigos falando sobre o que conteceu com o passar dos anos na NFL.
Quanto mais textos assim melhor, pois mais cohecemos da vida desse belo jogo.

 
Às 21 de abril de 2010 às 16:58 , Blogger Blog do João disse...

Salve Mancha!! aprendendo sobre futebol americano com vc!!! a temprada de 2009 foi a primeira qu acompanhei integralemnte!! que venham outras!! Esse post foi muito fino! parabéns pelo trabalho!! SAUDADES DA MADRUGADAS DE DOMINGO!! EITA!!! COMEÇA TEMPORADA!!!

 
Às 27 de abril de 2010 às 09:13 , Anonymous Víctor Taube disse...

Bacanex, lembro de um jogador de futebol brasileiro que foi pro EUA - acho - jogar de Kicker em alguma liga aí, provavelmente não era na NFL, não sei.

 

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial